Transition Brasil

Tudo começou  com a participação no Gaya Education, na cidade do Rio de Janeiro, durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada em junho de 1992. Este evento ficou conhecido mundialmente como ECO-92 ou Rio-92 e reuniu um número expressivo de organizações não-governamentais que organizaram de forma paralela um Fórum Global.  A Carta da Terra e a Agenda 21 são documentos originários desse grande encontro e marcaram as discussões sobre a biodiversidade e as mudanças climáticas, no Brasil e no Mundo. 

Apesar de vários desvios, depois de quase 30 anos, as sementes lá plantadas germinaram de diferentes formas. Exemplo disso é  o ativista Paulo Cesar Araújo, maranhense de nascimento e brasiliense por opção desde 2011, que transformou o primeiro contato com o movimento Cidades em Transição e as ideias de Rob Hopkins no Projeto Tempo de Plantar,  estimulando a mudança por meio da ação. 

O caminho percorrido para projeto alcançar a marca de 22 mil árvores plantadas  em Brasília e regiões periféricas das cidades satélites,  em  2019, passa pela abordagem Dragon Dreaming, uma metodologia que se organiza por meio do desenvolvimento de projetos sustentáveis e são geridos de acordo com uma espécie de ciclo que envolve as etapas: sonhar, planejar, realizar e celebrar. 

A formação para a transição de Paulo Cesar Araújo incluiu o treinamento para agentes de transição, realizado em São Paulo, em 2013. Ao finalizá-lo voltou à Brasília com a missão de criar uma iniciativa. Em busca de referências e apoios para tal conheceu a Escola da Natureza – Centro de Referência em Educação Ambiental da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal, criada em 1996, onde diversos movimentos de bases comunitárias acontecem. Ao participar ativamente das atividades da instituição mapeou várias iniciativas de transição que já estavam em curso. 

A partir daí Tempo de Plantar ganhou forma. Com o objetivo de estimular a cultura da regeneração do planeta, segundo Paulo Cesar, porque passamos a vida inteira tirando recursos do planeta através do consumo e que não temos o hábito de devolver, de repor o que tiramos, o movimento de transição organizou comitês de plantio de árvores em cada região administrativa da capital federal que se expandiu e já somam 27 cidades participantes. 

A participação é voluntária, são cerca de mil adesões, e as reuniões acontecem aos domingos, uma vez por mês individualmente e, uma vez por mês, coletivamente. Nessas reuniões são preparadas mudas de árvores originárias do cerrado, o bioma da região, que são colhidas pelos participantes do projeto e nutridas até que se formem e cresçam. Esse ato estabelece vínculos com a natureza alcançando uma das principais iniciativas da atividade que é a de reconectar as pessoas à natureza. 

A ação não é apenas plantar uma árvore o que por si só é promove bem-estar pessoal e coletivo, a relação que se estabelece é entender o período em que as espécies locais florescem e dão frutos. Além disso entender que as sementes carregam a história de sua espécie e de seu habitat, que podem ser leves ou pesadas,  grandes ou pequenas como um grão de areia, ou ainda que têm formatos diversos como o  de vagem ou de asa e que se dispersam de diferentes formas pela ação e capricho da natureza, aproxima as pessoas que estão em seu entorno. Isso inclui as crianças que vão aprender o nome das arvores em muda e cuidar para que ganhem presença e espaço num parque, numa rua ou em quintais. Dessas experiências surgem outras como as hortas, feiras de trocas, mutirão de limpeza de espaços públicos, rios e lagos. 

Plantar uma árvore é uma atividade que enuncia uma renovação. Para Paulo César Araújo essa renovação é uma transição que está baseada em resistir ao contexto conturbado, ter resiliência para passar por uma crise e sobreviver a ela; reconectar-se com meio ambiente e regenerá-lo para sua sustentabilidade.  A transição é para uma grande virada. A transição começa internamente e individualmente. Alcança os vizinhos e influencia a comunidade na comunhão desses valores.

Brasília é uma cidade arborizada, mas a periferia e as cidades do entorno apresentam   índices menores. “As empresas de arborização têm medo desse empoderamento com os  argumentos que as árvores devem ser plantadas em lugares certos”, completa Paulo Cesar.  “É preciso ter o direito de plantar árvores”, reforça.

O projeto Tempo de Plantar conta com um manual de plantio em área urbana com conteúdo fornecido pela EMBRAPA  – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Entre as informações do material estão uma agenda da época do ano em que as árvores produzem sementes; indicação de lugares adequados para plantio de mudas e valorização do ciclo da natureza. Ressaltam o fato de serem nativas de seu bioma para que não sejam prejudicadas e não prejudiquem o meio ambiente e sua população.  

Há um intenso trabalho de educação ambiental presencial, e, em tempos pandêmicos, remotamente. As redes sociais e o canal de WhatsApp integram os interessados e promovem interações entre as comunidades e grupos. Uma forma carinhosa e hospitaleira de tratamento entre os participantes do movimento é identificá-los de acordo com seus biomas. Isso quer dizer que as trocas são entre pampenses, cerradenses ou pantaneiros entre outros.

Planejar e criar eventos faz parte do estímulo ao engajamento dos voluntários e dos cidadãos. O movimento organiza oficinas, palestras, rodas de conversa, produz as mudas que serão utilizadas nas ações de rua como as programadas para os meses de setembro, dia 11 é o dia do Cerrado, e, em dezembro, dia 08 é a data de aniversário de John Lennon, um dos inspiradores do movimento. 

A circulação e compartilhamento dos interesses entre os participantes funcionam como núcleos que se voltam para diversas mobilizações como georreferenciamento, captação de recursos e conhecimento de legislação e todas as que sejam discutidas e consideradas relevantes para a comunidade. 

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