Transition Brasil

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TRANSITION BRASILÂNDIA

A Brasilândia é uma área de 21,15 km2, localizada na Zona Norte de São Paulo, possui 265 mil habitantes, e a maior taxa de vulnerabilidade entre os jovens da capital, além do 84º IDH da Cidade. Localizada na Subprefeitura Freguesia Brasilandia, essa área encontra-se no limite da Floresta da Cantareira, a maior floresta Urbana do Mundo, com mais de 70 hectares de área contígua de mata. Atualmente a maior parte da Floresta é protegida e faz parte do Parque da Cantareira, formado por três núcleos : Pedra Grande,    . 

A Brasilândia iniciou há 10 anos, uma experiência única no mundo, que é o processo de transição para a sustentabilidade, inspirada na metodologia inglesa de Cidades em Transição, e que pela primeira vez vem sendo implantada em uma área de baixo IDH, e alta vulnerabilidade. 

O Grupo de Transição da Brasilandia, foi um dos primeiros do Brasil, e foi reconhecido como uma tecnologia inovadora no mundo, tendo sido apresentado em vários congressos pelo mundo. 

O Programa, denominado pela comunidade de Transition Brasilândia envolve vários níveis, desde a saúde, educação, cultura, economia, meio ambiente, fazendo uma conexão entre todos os atores sociais atuantes nesta área, para pensarem conjuntamente soluções para as questões locais, sempre com foco no combate ao aquecimento global e pico do petróleo, em busca de uma sociedade menos impactante e mais resiliente. 

O movimento Transition Towns (Cidades em Transição) aterrissou na Brasilândia em maio de 2010 por meio do Trabalho de facilitação e capacitação realizado por Monica Picavea e Isabela Menezes, financiado na época pela Fundação Stickel.. O processo de construção do Transition Brasilândia contou, desde o início, com a participação de atores locais articulados em rede.

Desde janeiro, por conta da pandemia, as reuniões presenciais foram suspensas, mas até o ano passado eram realizadas reuniões mensais de articulação e planejamento de ações de curto, médio e longo prazo, para a promoção do desenvolvimento sustentável no território. 

Processo de início

Tendo como base a metodologia do movimento Cidades em Transição e as necessidades locais, foram realizadas diversas ações de estruturação do Transition Brasilândia. Entre elas estão:

Formação de grupo iniciador

Em maio de 2010 foram realizadas reuniões com os atores locais e formado o grupo iniciador, responsável por planejar as primeiras ações e buscar novos parceiros no território. Fizeram parte deste grupo Monica Picavea, então superintendente da Fundação Stickel, Edson Vieira de Souza, da UBS Terezinha, Rosângela Gracio, do CEU Paz, Júlia Campos, cineasta da Brasilândia Filmes, Ricardo Benitez, do PAVS (Programa Ambientes Verdes Saudáveis) e o Sr. Quintino José Viana, do Movimento Ousadia Popular, Sergio e Rodrigo do Movimento Ambientalista Saci. 

Mapeamento do território

A rede de atores locais foi articulada para a realização de um mapeamento do território a fim de compreender a realidade e socializar informações de ativos, econômicos, sociais e de saúde existentes no território. Com estas informações em mãos, é possível divulgar espaços disponíveis na comunidade e facilitar ações e projetos. 

Formação de grupos de trabalho

Iniciadas as reuniões de articulação foram formados grupos de trabalho, a partir das necessidades identificadas e sugeridas pelos próprios líderes locais. Para cada grupo de trabalho, foi eleito um coordenador, que representa todo o grupo e é o principal contato com parceiros.

Plano de Futuro

Os grupos de trabalho desenharam em conjunto uma linha do tempo, planejando ações com prazos definidos, com o objetivo de promover as mudanças que todos desejam ver na Brasilândia.

Resgatando a Cultura Local

São realizadas ações que promovam o resgate, o fortalecimento e a valorização da cultura local. Uma dessas ações é a realização de cursos de cinema e fotografia, que incentivam os participantes a olhar e registrar a história da própria comunidade. Entre os resultados destas ações está a o nascimento do Documentário DNA da Brasilândia, feito pelos alunos do Curso de Documentário e Cinema com Júlia Campos, da Brasilândia Filmes, e a composição do Rap do Transition feito pelo Japonês, Marcos Campos morador da Brasilândia. 

Segurança Alimentar  e Verdelândia

Tem por base aumentar a qualidade da alimentação dos moradores da Brasilândia por meio de cursos de capacitação para aproveitamento total do alimento e técnicas de plantio. O grupo vem desenvolvendo hortas comunitárias no território, e procurando levar informações nutricionais aos moradores por meio dos agentes de saúde. Atualmente existem 7 hortas comunitárias no território. Esse trabalho é realizado pelas Unidades Básicas de Saúde do Terezinha, Silmaria, Paulistano e Guarani, e pelo Programa Ambientes Verdes Saudáveis, da Secretaria de Saúde Municipal em convênio com a Secretaria do Verde e Meio Ambiente, e diversos moradores da região. 

Houve ainda um resgate da alimentação popular, feita em oficinas orais com os idosos, onde eles repassaram conhecimentos sobre uma série de verduras e legumes que costumavam se alimentar, e que podem ser cultivadas nos quintais, em baldes, ou hortas urbanas. 

Hoje está em gestação o projeto de se ocupar mais 14 espaços comunitários com este tipo de atividade. 

Água e Preservação

Este grupo busca trabalhar a educação ambiental, a preservação das águas da região e das florestas e matas ainda remanescentes na área. Para tanto o Projeto Saci ( realizado pela Secretaria de Saúde e Meio Ambiente e apoiada também pelo Projeto PAVS) capacita as crianças da região para serem agentes ambientais mirins e zelarem pelo meio ambiente local. Esses pequenos fazem sistematicamente mutirões de limpeza do parque da Cantareira e das cachoeiras locais. 

Mutirões de reflorestamento também são organizados pela comunidade, em áreas degradadas, de futuros parques e onde houve remoção de famílias em áreas de risco, buscando proteger e evitar novas ocupações irregulares e o enriquecimento destes espaços. 

Economia Solidária 

Este grupo é formado por empreendimentos e negócios locais e visa fortalecer a economia local. Trabalha para incentivar novos projetos de geração de renda na área, o consumo local, realizando feiras de trocas, e reuniões de articulação e incremento da economia na Brasilândia. 

Hoje existem vários grupos que produzem itens como: eco-bags de reaproveitamento de banners, e tetrapack (Brasilianas), além de um grupo de buffet local (Doces Talentos), outro que faz um trabalho de peças com eco-design utilizando garrafas Pet  ( Mensageiros da Esperança), e vêm sendo feitos mapeamentos para destacar e descobrir novos talentos locais. 

Zero Lixo 

Reduzir a quantidade de lixo jogada irregularmente em diversos espaços da comunidade é o objetivo deste grupo, que trabalha fazendo mutirões de limpeza, e sensibilizando a comunidade para que só coloque o lixo na rua nos dias de coleta. 

Foi realizado um mapeamento dos locais em que esse lixo é colocado, e estão sendo programadas ações de revitalização e ocupação deste locais, para evitar o acumulo de lixo e inibir a colocação de rejeitos nestas áreas. 

Gaia Education 

Este programa de educação para a Sustentabilidade nasceu em Findhorn, na Escócia e foi considerado  pelas Nações Unidas como uma contribuição para a década do desenvolvimento sustentável no mundo. Realizado em mais de 30 países, o programa forma designers para sustentabilidade e também está sendo implantado pela primeira vez em uma comunidade de baixíssima renda, e em processo de transição. 

Trinta líderes comunitários estão em processo de capacitação, e vem aprendendo ferramentas  para as áreas Social, Econômica, Ecológica e de Visão de Mundo,e aplicando essas técnicas na comunidade. Durante o curso foram construídas, uma sala de aula de 30 metros quadrados no Céu Paulistano ( escola localizada na Brasilândia, onde acontecem as aulas do curso), em super adobe e coberta por uma geodésica de bambu tratado, revestida de fibrocimento. 

No local estão expostas ainda várias tecnologias, também ensinadas no curso de reaproveitamento da água da chuva, fogão solar, aquecedor solar de baixo custo, compostagem doméstica, entre outras. 

Esse trabalho vem sendo financiado pelo CRIS- Centro de Referencia e Integração em Sustentabilidade, Secretaria do Verde e Meio Ambiente, e Oficina da Sustentabilidade.

 

Transition Brasilandia hoje 

O Transition Brasilandia foi lançado oficialmente no dia 11 de dezembro de 2010, e atualmente as reuniões vem se realizando no Céu Paz. 

Durante a pandemia, vários projetos ligados à sustentabilidade nasceram dentro desta articulação, e vem trazendo muitos benefícios para a comunidade local. Segundo Dimas Reis, uma das principais lideranças locais, criador da organização Preto império,  ao observar que o bairro ocupava o primeiro lugar em mortes pelo Covid, e que as famílias vinham enfrentando enorme dificuldade por conta, não só da doença, mas da recessão criada por ela, fazendo com que não houvesse alimentação suficiente principalmente para as crianças, que agora não comiam mais na escola, decidiu se mobilizar, e fez uma campanha para entregar cestas orgânicas às famílias com maiores dificuldade. 

Esta é uma das ações locais realizadas na comunidade. Segundo Dinas, um dos pioneiros no movimento TT Brasilândia, o movimento teve muitos momentos nestes 10 anos, alguns mais ativos e outros mais tranquilos, e agora existem muitas ações visando a sustentabilidade do bairro como por exemplo: 

O Festival Incríveis Manifestações Pretas, tem por objetivo difundir a produção cultural da população negra e periférica no território, valorizando a troca e a aprendizagem entre pessoas e grupos para pensar futuros possíveis.

O projeto  Itan Game / Itã Game, criou um jogo virtual que incentiva a produção de conteúdo audiovisual, buscando fortalecer a memória coletiva e laços comunitários.

O projeto  Terreiro Hi-tech: o futuro da ancestralidade busca aplicar técnicas e teorias do afrofuturismo, permacultura e ancestralidade para criar e melhorar espaços de saúde mental, desenvolvimento e fortalecimento dos povos e comunidades tradicionais na arquitetura, economia, bem estar e bem viver. 

O projeto de Cinema nas ruas, promove a circulação da cultura de da educação pelos territórios de São Paulo de forma segura em meio à pandemia, utilizando frequências de rádio para o público assistir as projeções das janelas de suas casas, levando artistas projetados dentro da Kombi para o telão. 

Na área de saúde e meio ambiente, unindo-se a cultura tradicional o projeto Ìpésã – despertar das folhas, busca ofertar conhecimentos e atendimento terapêutico para a população de baixa renda. Desenvolver formações e vivências para público pagante de forma a subsidiar ações para territórios de baixa renda.

Os Guardões Griô, é um projeto que forma jovens de 15 a 29 anos, moradres da Brasilandia com feramentas práticas de gestão cultural comunitária, ampliando suas habilidades e visão de mundo de forma a contribuir para a valorização e fortalecimento da cultura local (tradicional e contemporânea) e efetivar a construção de futuros desejáveis e caminhos de geração de renda dentro do território na vida dos jovens. e caminhos de geração de renda dentro do território na vidas dos jovens. 

Na área de Meio Ambiente e agricultura urbana, Saúde, Segurança e Soberania alimentar, o projeto Arrenda Horta, tem o objetivo de implementar hortas em espaços ociosos, residências de famílias de baixa renda para a comercialização de alimentos para consumidores finais, por meio da agricultura familiar urbana, agroecologia e permacultura. 

Na área de Comunicação e educação o projeto Estética da Narrativa, busca acessar ferramentas, investigar as estéticas narrativas e seu poder para conduzir a construção do imaginário social, contribuindo para a condução de projetos e uma comunicação mais efetiva e estratégica. 

As lideranças locais, pretendem retomar as reuniões, mesmo que seja de forma virtual,e no próximo ano, assim que for permitido de maneira presencial. 

“O Transition Brasilandia e um ótimo impulsionador de projetos e de colaboração na comunidade, precisamos fazer o e não podemos perder isso”, diz Célia Andrade do projeto Doces Talentos.